domingo, 5 de setembro de 2010

Silêncio

Uma fenda rompeu debaixo dos meus pés, e eu caí. Caí no abismo do horizonte, num amontoado duro e feio, de feições graves, más. A paragem estabelecida pela minha veloz queda pintava-se em tons de terra e de rocha, e desenhava-se em linhas irregulares, a lápis negro, de artista amargurado. Era um deserto, um vazio de verdes, de vida, preenchido por poeiras provocantes que tentavam tapar-me os olhos feridos. Nem o céu salvava a paisagem oca com que eu me deparava, era cinzento, apagado de luz e nem vestígios retinha de nuvens.
Não era um lugar horripilante, nem despertava o susto, era simplesmente seco, simplesmente morto.


Não havia desespero dentro de mim, nem medo, nem sobressalto, nem nada...existia apenas uma companhia constante, assídua e fiel, ininterrupta, e de uma maneira precária, até confortante, a solidão. Sem opção, era a amiga de todas as horas, o solene refúgio de uma alma que mais nada tinha a perder.
A minha vida sabia a fel.
A podridão da minha inocência, da minha força, mentiram-me. Pelo bem, pela coragem, pela persistência, andei para trás, e por mais que segurasse a porcelana, ela caiu sempre. E eu remendei-a sempre.
A companhia do mundo é o carniceiro do espírito, luto da boa atitude, da boa vontade. Ah, como desacredito na esperança e nas lágrimas.
O som mais valioso do Universo era a minha única recordação, o imaculado, sagrado, puro santuário da memória do meu ser.
Era como o verdadeiro caminho, o 'para ser', o propósito.

E se tu me compreendesses, tiravas-me daqui.

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