Caleidoscópio

Precisava que alguém estivesse aqui. Alguém para me embalar e me consertar o coração. Sinto-me só e perdida, caminho numa estrada sem destino, sem rumo, repleta de nada, solitária. Não há ninguém aqui, neste mundo chamado «meu sonho», apenas resido eu, numa abstração branca, verde e fria, sentada num canto que não existe. Brota uma lágrima dentro de mim, a seguir outra, e mais uma que teima em derramar. Não percebo a razão do meu choro leve, molhado, silencioso. Pergunto-me por quê, mas se eu não sei a resposta, como poderei responder ao meu «eu» confuso e impaciente? Há tantas dúvidas que percorrem a minha pele e nada que as possa sustentar. Devia sorrir em momentos como este, esboçar uma pequenina esperança, pelo menos. É difícil, muito difícil levantar-me depois de uma queda à qual sobrevivi. Não reparei que tinha tropeçado num fundo precipício e deixei-me continuar a caminhar num nada. Só notei quando bati no chão e não vi ninguém à minha espera. Tenho as mãos feridas e o olhar abatido e opaco. Tento recolher os pedacinhos do meu coração e juntá-los de novo, mas são tantos que não os encontro todos. As pedras da montanha persistem em não me deixar subir, sangram-me o peito, as mãos, mordo os lábios para esquecer a dor e saber que ainda estou viva. Escorre sangue da minha boca. Toco em tudo à minha volta, à procura de uma saída, de uma porta, uma janela, algo que me liberte. Subitamente, tudo pára. Entrei num denso vazio que chama o meu nome e a minha alma. Pensei em refugiar-me lá até me sentir segura...deitei-me e fechei os meus olhos, já sem cor. Deixei de respirar, não havia ar e não ouvia nada. Sim, estava morta. E não tinha medo, apenas o silêncio me acompanhava.
Mas alguém perguntou ao céu por mim. E o céu respondeu. Uma brisa meiga e afável renovou os meus pulmões e abraçou-me o cabelo. Afinal havia vida em mim...ainda havia um som para ouvir, uma palavra para expressar...