Morning drug

Creio que o céu me chama. Lá longe, onde o vento marcha e delira e me enfaixa com arrepios e correntes frias, lá longe, onde o meu corpo se funde com o fogo e deixa-se queimar.
Fervura.
O sangue palpita.
Estar só onde o céu está é como gritar com contracção, é como abrir a mão e não a fechar, é como abraçar a areia. É não estar.
Não fazer sentido é a maior lógica, olhar, ouvir, saborear...sem entender o significado.
Talvez seja como proibir o sentimento, escutar o seu murmúrio e por mais que o espírito peça, ter de o enterrar.
Entre sofrer e não amar, escolher um destes caminhos transforma o que antes era abrigo em exposição. A espera, lá longe, desespera, amedrontece, curva a coragem. É náusea que abafa na garganta e contamina a vida, não sai, circula, sem ponto de início ou de final, vai e volta, mas não pára. Faz cremar os olhos e acorrenta a saudade à boca.
Lá longe, onde as montanhas são verdes e nascem as rosas, o tempo é longo demais para morrer.
Lá longe, onde a essência ébria ressalta e conduz, brota a música, a sabedoria, o sorriso, a paz e o amor.